No
Dia Nacional da Redução da Mortalidade Materna, 28 de maio, a Comissão
de Defesa dos Direitos da Mulher da Assembleia Legislativa do Rio
(Alerj), presidida pela deputada Inês Pandeló (PT), defendeu a
conscientização contra o abuso no emprego do parto cesárea como uma
medida fundamental para a redução dos números de casos. O colegiado
realizou uma audiência pública para apresentar o relatório anual sobre
os casos de morte materna no Estado do Rio e discutir estratégias para a
redução do problema.
A investigação, feita pelo
Comitê Estadual de Prevenção e Controle da Mortalidade Materna,
descobriu que 182 mulheres morreram em 2012 de causas relacionadas à
gravidez. Os motivos mais comuns são hipertensão, hemorragia, infecção e
aborto. A deputada conta que a Organização Mundial de Saúde (OMS)
afirma que 96% dessas mortes poderiam ter sido evitadas. “Temos a
criação dos comitês municipais de investigação da mortalidade materna,
para que eles apresentem os dados que possibilitarão a elaboração de
políticas públicas para combater isso”, explicou Inês Pandeló. Desde
2003, a notificação das mortes maternas é compulsória em todo o país. No
entanto, os números ainda são menores do que os reais.
Representante da organização
Parto do Princípio, Roberta Calabria diz que todos os protocolos de
saúde indicam que a mulher deveria passar por parto vaginal na maiora
dos casos, porém, as cesarianas são 54% dos partos feitos nos hospitais
brasileiros. “Segundo pesquisa da Fiocruz, a maioria das mulheres começa
a gestação querendo um parto normal. Tem algo errado aí. A cesárea
devia ser uma cirurgia que, quando necessário, salva vidas”, afirmou
Calabria. Para ela, tirar o poder de decisão das mulheres é uma falta de
visão dos médicos: “Esses profissionais têm que ser educados para
trabalhar de acordo com as evidências”.
O Ministério da Saúde criou a
Rede Cegonha, uma estratégia nacional cuja finalidade é estruturar e
organizar a atenção à saúde materno-infantil. “O programa obriga a
revisão de tudo. Fala de pré-natal, do parto, de toda a gestação, e
busca implementar um acompanhamento correto, com orientação e tratamento
de qualidade”, informou o Coordenador do Programa de Atenção Integral à
Saúde da Mulher, Criança e Adolescente da Secretaria de Estado de
Saúde, Egberto Nogueira. Segundo ele, trata-se de um trabalho gradual e
penoso, que hoje é majoritariamente voltado para a recuperação da ética
do trabalho. Nogueira explicou que uma ponte com as instituições de
ensino de Medicina, Enfermagem e demais carreiras da área de Saúde é um
objetivo: “Temos que sair da formação acadêmica já humanizados. É por
isso que prefiro falar em responsabilização no lugar de humanização dos
procedimentos de saúde”. A Rede Cegonha é um trabalho em conjunto com os
municípios, e, segundo ele, no Rio, alguns já apresentam avanços.
Secretária de Política para as
Mulheres do município do Rio, Ana Rocha reforçou a importância da
conscientização para a autonomia e a autoestima das mulheres, que
precisam ser fortalecidas. “Cabem campanhas de esclarecimento sobre a
cesariana e a necessidade do pré-natal. Por mais que a gestante esteja
se sentindo bem, imprevistos podem ocorrer”, explicou. Rocha considerou a
mortalidade materna um desafio mundial, já que o problema está longe de
se restringir ao Brasil, e afirmou que essas mortes não condizem com o
progresso da mulher em nossa sociedade.
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