terça-feira, 24 de abril de 2012

Educação financeira poderá ser obrigatória nas escolas do Rio



Projeto aprovado pela Alerj deve ajudar novo consumidor a planejar gastos e evitar endividamento, dizem especialistas 

Alunos do Ensino Médio das escolas estaduais poderão em breve aprender em sala de aula como planejar os gastos do dia a dia, poupar e escolher a melhor opção de investimento, entre outras lições de finanças pessoais. A Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) aprovou um projeto de lei que prevê a inclusão da educação financeira no currículo — como complementação — dos colégios do estado. O governador Sérgio Cabral tem até esta terça-feira para aprovar ou vetar a nova lei.

“São conhecimentos necessários ao exercício de qualquer profissão e também ao bom desempenho da vida doméstica”, justificou o deputado José Luiz Nanci (PPS) no texto de apresentação do projeto.

A matéria, que desenvolverá os princípios de planejamento, gerenciamento, avaliação e controle da economia pessoal e familiar, terá o conteúdo elaborado pela Secretaria de Estado de Educação. O tema será desenvolvido por meio de palestras, atividades interdisciplinares, leitura e interpretação de textos, conforme a proposta.

Segundo o consultor e professor de educação financeira Marcos Crivelaro, se passar a valer, a nova prática nas escolas poderá ajudar a formar consumidores mais preparados e exigentes:

— Se os professores conseguirem tornar o tema interessante e atrelar o assunto à realidade dos alunos, será uma boa iniciativa. Já se sabe que não são as grandes compras que comprometem o orçamento das famílias. Em muitas situações, é o cafezinho de todo dia, as pequenas compras. Portanto, é importante que o jovem aprenda a planejar. E isso vale, por exemplo, para a aposentadoria. Como tem o tempo a seu favor, um adolescente já pode começar a cuidar da vida financeira a partir dos 16 anos — indica Crivelaro.

A economista Cristina Martinussi também destaca a associação da prática com a teoria para que um projeto de educação financeira tenha bons resultados:

— Consciência e planejamento são fundamentais para o consumidor analisar, por exemplo, um contrato de crédito e evitar o superendividamento. É importante que um programa de educação financeira inclua atividades práticas, como a criação de planilhas para organizar o orçamento doméstico. E também explicações sobre as ferramentas do mercado, esclarecer como funcionam empréstimo consignado, cheque especial, cartão... — diz a assessora técnica do Procon-SP, que organiza mensalmente palestras gratuitas sobre o tema.

Mau uso do crédito não está relacionado ao nível de instrução


Mas alunos do Ensino Médio, ainda adolescentes, estão suficientemente preparados para compreender temas considerados “espinhosos”, como matemática financeira e juros compostos? Para a professora de finanças Sheila Maia, da ESPM-RJ, o projeto pode dar certo, pois incentivará os jovens a falar sobre dinheiro com a família, algo ainda pouco comum na sociedade brasileira:

— As pessoas podem estudar uma vida inteira e não se instruírem financeiramente, ou não terem instrução nenhuma e apresentarem uma boa administração com o seu dinheiro. O mau uso do crédito não está relacionado ao nível de instrução, mas sim à compreensão daquilo que é relevante. O segredo para ter controle financeiro não é saber o quanto você ganha, mas o quanto gasta. Por isso é tão importante sentar com a família e organizar o orçamento — afirma.

Mestre em economia, Sheila Maia considera a informação a respeito dos juros que incidem sobre todos os produtos como uma das principais noções de economia a serem transmitidas aos alunos. Ao pesquisar o comportamento do consumidor inadimplente, a professora concluiu que, além de não estarem acostumados a planejar o futuro após décadas de inflação alta, os brasileiros ainda confundem as compras necessárias com as supérfluas:

— Diferenciar o que é necessidade do que é desejo é fundamental quando se quer ser um consumidor consciente. Não há problema em comprar algo apenas para satisfazer uma vontade. Só não se pode pagar juros para saciar esse desejo — destaca a professora.

Nos EUA, alunos desconhecem riscos do cartão de crédito

Mesmo com leis que tornaram mais difícil aos bancos oferecer cartões de crédito para universitários, as dívidas continuam sendo um grande problema nos campi dos Estados Unidos. Um novo estudo aponta que, embora 70% dos graduandos e 96% dos estudantes de pós-graduação tenham cartões, menos de 10% pagam a dívida na íntegra todos os meses e apenas 15% têm alguma idéia de quanto é a taxa de juros.

Os alunos desconhecem os riscos do uso do cartão de crédito e os fundamentos de sua utilização, de acordo com o estudo "Alfabetização Financeira e Cartões de Crédito”, publicado na edição deste mês do “International Journal of Business and Social Science” (Jornal Internacional de Negócios e Ciências Sociais).

“Eles contraem dívidas enormes, sem ter qualquer ideia de quanto estão pagando por esse privilégio. Isso pode parecer apenas outro exemplo de imaturidade dos estudantes, mas não é desculpa, disse à publicação Gail Cunningham, porta-voz da Fundação Nacional de Aconselhamento de Crédito. “O fato de estarem na faculdade indica que eles têm a capacidade de aprender os fundamentos básicos do sucesso financeiro, mas estão optando por não fazer isso.”

Os pesquisadores ouviram 725 estudantes de cinco escolas diferentes e observaram que aqueles que tiveram aulas de direito empresarial ou de ética estavam mais bem informados sobre os custos do cartão de crédito.

Fonte: O Globo Online - 24/04/2012

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